sábado, 3 de outubro de 2009

Inner Visit

"E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio
quero estar sozinho!"
Álvaro de Campos

Sim, sim...
Eu deito tudo para o chão
como tens deitado a vida,
eu olho para a vida,
tento fechar os olhos,
tento não ouvir nada dos outros,
nada! Nada!
Não quero ouvir nada
do que toda a gente tem
tão urgentemente para me dizer,
para me alertar,
para não errar mais,
para não chorar mais,
para que não sofra
nunca, nunca, nunca mais!

Se, de todos esses nomes,
alguém tiver para me dar
uma noite de chuva,
uma tarde de tempestade,
um lar, uma família,
então aceito o convite:
então pararei com tudo a que reajo,
cessarei os sentimentos neste mim esquisito,
contradito, dito e desdito,
fechado, sufocado, aflito.

Se nada disso mudarão,
então... porquê?
Quem são todos para olharem para mim?
Quem anda zombando do tempo que não passa,
que troça incessantemente das minhas expectativas,
da ânsia de querer,
de querer chorar, infantil e triste,
sozinha, sem ninguém...

Eu gosto de ser só.
Apenas me amedronto, me escondo
ao imaginar, no meu imaginário
monte, cultivado,
prestes a morrer,
prestes a morrer,
angustiada... angustiada
prestes a deitar ao nada
meu tesouro tão individual,
tão insensível,
tão angustiantemente apenas meu...!

Me entristeço... que tudo o que quero é não ser só...
é não ser só morrer...

1 comentário:

  1. A solidão por vezes sabe bem... como eu sei disso também :-)
    Mas... "Me entristeço... que tudo o que quero é não ser só...
    é não ser só morrer..." Isto diz tudo!!

    Parabéns por mais um belo momento de leitura!

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