quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um contemplar desprovido de tempo.
Um contratempo carente de lar.
Um cigarro por fumar, por apagar...
Um sorriso que mingua ao relento...
Para onde foi tudo?

No ritmo bizarro, agudo,
meio ignorante, meio soprano,
a chuva que me troça, canta para o mundo,
para este tão pequeno mundo,
este poço claustrofóbico e profundo.

Dir-te-ei, talvez, que esqueci o medo
e que envenenei para sempre o mal de mim,
que tenho uma nova parte,
bases firmes, rumo a distanciação.

Dir-te-ei, porque não?, que já tenho sol,
que algo vedou as pegadas roxas que me seguiam.

Dir-te-ia, se parasse para confessar,
que me fazes feliz
e que minhas lágrimas já são alegria.

Dir-te-ia, caso ouvisses,
caso quisesses,
que, enquanto a cidade luminosa
ri da vida maravilhosa,
desta podridão de gente,
da alma tuberculosa que tem,
eu, miraculosamente,
descanso apenas.

Descanso no meu relento,
no meu lugar exposto.

Descanso na minha concha,
pálida, lascada, transparente...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Gretel

Porque há paixões por matar que vivem
e bruxas e fantasmas que respiram,
almas, alucinações, loucuras que sentem
as lascas e as chamas que me atiram

os rochedos pontuais que me ferem,
as lágrimas, mágoas que vou sangrando,
as ilusões que ainda me enganando
dizem ser acaso, elas não querem...

Ninguém me quer magoar, mas a cabeça...
a que desmaia tão frequentemente...
espera, planeia que aconteça
algo de si, giratória... doente...

Convence a verdade do irreal,
é tudo igual,gira sem sentido
e é acaso, facto não induzido
meu constante mentiroso mal.

Mente enlouquecida, mente perdida
que me apaga caminhos, estradas...

Que come os grãos que fui deixando cair...