domingo, 29 de novembro de 2009

Tempting

Sabes o que foi?
Não deu tempo de ver o tempo passar
não deu tempo pra chorar
as mágoas, as labaredas
que incendiaram o meu corpo
a minha angústia, o meu ser todo ferido
todo terminado.
Não sei ser sem ti!
Sinto-te a ausência a toda a hora,
longe, longe, sempre longe e inalcançável.
Quero gritar alto
quero constantemente sufocar-me,
p'ra não chorar.
Eu não quero chorar.
Eu não posso chorar!
Eu não te posso ter, não sei sabê-lo
mas nada posso fazer .
Que sou eu?
Que triste ser
tão fraco, tão inapto
a estar a teu lado,
tão mesquinho e vazio,
tão sempre tremendo de frio,
tão sempre desgastado...

Para que me queres? Como podes querer me?
Não sou de ti, não conheço tua matéria...
não sei ser da tua cor...
não tenho a tua força.. não sei falar...
não tenho voz.
Calaram-me.

Eu... eu..!
Gelo por dentro, meu amor,
gelo, neve, sombra...
Não me queiras...
Não me queiras desvendar,
eu não te posso magoar!!
Não concebo a ideia de te ver com menos uma milésima
desse teu brilho particular.
Quero-te tanto
mas não me queiras...
Não me queiras, que não sirvo pra ti...
Não me queiras que só sei sofrer
como se sofria antigamente... sem saber porquê
que só sei querer sofrer, mergulhar no meu oceano de cicatrizes e abri-las todas...
e escrever... escrever...
escrever por te querer...
por me quereres,
escrever para que não me queiras...

Voa longe, amor, pois que as asas foram feitas pra voar.
A meio do caminho diz-me que me ouves, apenas.
Oh, mas diz me que me ouves!
Diz me que posso cantar as mais bizarras canções que vais ouvi-las sempre!
Diz-me, diz-me!!
Mente-me, mas diz me!!
Diz me que, mesmo longe, nada é mais meu que tu proóprio,
que me sentes,
que me controlas as lágrimas
com um beijo ausente!

Finge e chama meu nome
como se de um segredo se tratasse,
como se um murmúrio roubasse todo o nosso encanto...!
Ilude-me, para que pense sempre que a mão que não sinto e me acaricia a todo o momento é a tua,
e que nada mais poderia ser senão a tua própria mão,
que nada mais é possível ser senão o teu carinho.

Eu já não sei nada...não sou nada...
ja é tudo turbilhão em mim...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

[Lá longe]

Lá, na terra longe,
De céu tão negro e triste,
De mágoa toda e inteira,
Onde a maior dor existe,

Te avisto ao fundo
De mãos a tremer.
Viajaste o mundo
E ainda tanto a temer!

De mãos fortemente dadas
À sorte tão ausente,
Estende às almas veladas
Teus braços em modo crente

E gritas ao céu tua prece
Em tom de voz sombria,
Proclamando que padece
Uma magnitude má e fria.
(Novembro.2007)

[Breve]

Deixa que chova por mim

Que a chuva não há-de molhar

Tanto quanto as lágrimas que chorei

O mundo vai caindo devagar

Fecho os olhos e não o sinto

Deixei de sentir por um momento,

Ou dois… ou mais até…

Já não dói… pelo menos não agora,

Mesmo que te tenha guardado

Num sonho que não se achei se perdi.

Que é de mim? Que é de ti?

Que é de nós e dos outros que nunca vimos?

Que correm junto a nós e não chamamos?

Que nos gritam sem que queiramos ouvir?

(2007)

[Lisboa]

Lisboa, a cidade
inúmera e seus pombos,
a sobreposta ansiedade
de Lisboa erguida dos escombros,

de cinzas, de segredos
no clarão do sol a raiar,
Lisboa e os pombos,
livres, no céu, a voar.

Olhar de menina, incrédula,
amargurada, perdida
no peso que traz sobre os ombros.

cidade minha, ingénua,
gelada, única, vivida.

A sua praça... e seus pombos...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Fábulas

No final do novo Outubro
talvez eu veja sol.
Agora não.
Agora os olhos fecharam-se,
tal qual os teus,
por pura teimosia,
num novo tipo de renúncia
e não de coragem... como tu.
Agora, nada verei raiando
sobre a areia imensa,
pois, para mim, és cada grão da vasta praia,
que vou contando insistentemente
enquanto ouço horas, sempre horas, gritadas p'lo mesmo relógio.
Tua lembrança sufoca mais alto,
meus olhos cegos de pensamento mudo...

No final do novo Outubro
talvez eu veja sol
e as flores que colhias alegremente,
saltando com a saia presa nas amoreiras,
gargalhando contra a paisagem campestre,
inferior e estupefacta,
maculada perante ti.
Mas, agora, és cada grão do areal,
que não repousa nunca no relógio sádico.

E és toda pó,
jacente no novo leito adormecido,
ladeada de tábua, céu e desconhecido.

Por enquanto, sou os teus lábios frios,
que me foram Verão constante,
e teu perfume que me beija
é apenas réstia de teu novo estado.

És toda pó... meu anjo...
rodo com os ponteiros, esbanjo
tempo... tempo que não existe,
esse tempo-nada onde caíste sem eco,
esse que me prolonga numa sobrevivência insípida
que nada tem de nós.

Sininho, és toda pó...
e eu não consigo isolar da minha mente
que te foste, que te roubaram
do meu ser egoísta e vazio...

E levaste contigo as cores...
deixaste comigo meus olhos cegos
de só te ver a ti.

Só vejo o teu corpo.
O teu corpo abandonado em teu novo leito sombrio.

Podes, Sininho desaparecida, pedir-me tudo.

Nada me fará o que me faz
chorar o sol frio de Outubro
e minh'alma pela tua, que jaz...!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Mensagem

Encontrei-te.
Encontrei-te num beco de rua,
avistei-te quando me dei conta de haver uma saída possível.

Sabes, é tudo arco-íris e algodão doce,
é tudo pão, aroma de domingo,
é tudo as rosas que bailam apaixonadamente no vento.
Sabes, é claro que sabes...!
Tens de notar que é tudo o avistar o sol
por detrás do aqueduto,
o grande azul dos astros que diz " bom dia" o dia inteiro,
a luz nocturna que se apagou
e fez secar a chuva de carvão que tantas vezes
caíu sobre mim.

Mas, meu amor, é tudo verde, rosa, carmim!
Tudo é a árvore do caminho que me fala,
o alcatrão que me presenteia
com o perfeito trilho
que me conduziu a ti.

E o silêncio que ganhou a voz das liras,
toda a poesia dos livros
é menor que o ar contra qual respiras,
vazio perante o peso que tiras
de meus ombros fracos
quando te vejo.

És meu mundo, meu amor,
meu universo.
És meu pensamento incolor,
meu sentimento, em verso...
És-me inteira e, no reverso,
cravado está o teu olhar,
que está em tudo...!


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Caminhante Caminhando

Lá vai, pensando,
caminhando lenta,
degradando sentimentos.
Vai, ansiosa e discreta,
enrolada nos argumentos.

Vai, do mundo alheia.
com o pensamento a gritar.
Na nova alma cheia,
na alma nova que tanto receia,
vai, alheia, a pensar.

Vai, dispersa, a ponderar,
a sorrir, a remoer, a imaginar.
A brisa passa, fria e secreta,
passa, passa, jovem e indiscreta,
e acorda-lhe a mente desperta.

Mas vai, vai todo o tempo, todo o caminho,
ao engano, ao desalento, ao desatino,
mas vai, só, no pensamento.

Vai só o arco-íris buscando,
no fim do mundo, a luz da lua cheia,
o mar descalço de areia saboreando.

Mas vai... vai sempre andando
de seus próprios pés alheia.