quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Onde a visão aguda?
Onde a negação comprida?

Onde os olhos novos,
a consciência da maldade de tudo?

Porquê o grito mudo
quando sabemos fazer-nos ouvir?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Nocturno

Noites vazias que se prolongam
horas tardias que te ondulam
em memórias neurasténicas e doentes...

Porque são sons e luzes frias,
choros, gritos e agonias
os estilhaços da alma que não sentes.

São palhaços, bobos, sem pintura,
um dedo que descobre e que perfura
a abertura das chagas a doer,

a queimadura da minha pele a perder
a cor, a vida, os espaços...
são palhaços, sem pintura, a endoidecer...

são o cair das estrelas, já caídas,
o ardor de todas as outras feridas
as horas tardias sangrando até anoitecer...!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um contemplar desprovido de tempo.
Um contratempo carente de lar.
Um cigarro por fumar, por apagar...
Um sorriso que mingua ao relento...
Para onde foi tudo?

No ritmo bizarro, agudo,
meio ignorante, meio soprano,
a chuva que me troça, canta para o mundo,
para este tão pequeno mundo,
este poço claustrofóbico e profundo.

Dir-te-ei, talvez, que esqueci o medo
e que envenenei para sempre o mal de mim,
que tenho uma nova parte,
bases firmes, rumo a distanciação.

Dir-te-ei, porque não?, que já tenho sol,
que algo vedou as pegadas roxas que me seguiam.

Dir-te-ia, se parasse para confessar,
que me fazes feliz
e que minhas lágrimas já são alegria.

Dir-te-ia, caso ouvisses,
caso quisesses,
que, enquanto a cidade luminosa
ri da vida maravilhosa,
desta podridão de gente,
da alma tuberculosa que tem,
eu, miraculosamente,
descanso apenas.

Descanso no meu relento,
no meu lugar exposto.

Descanso na minha concha,
pálida, lascada, transparente...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Gretel

Porque há paixões por matar que vivem
e bruxas e fantasmas que respiram,
almas, alucinações, loucuras que sentem
as lascas e as chamas que me atiram

os rochedos pontuais que me ferem,
as lágrimas, mágoas que vou sangrando,
as ilusões que ainda me enganando
dizem ser acaso, elas não querem...

Ninguém me quer magoar, mas a cabeça...
a que desmaia tão frequentemente...
espera, planeia que aconteça
algo de si, giratória... doente...

Convence a verdade do irreal,
é tudo igual,gira sem sentido
e é acaso, facto não induzido
meu constante mentiroso mal.

Mente enlouquecida, mente perdida
que me apaga caminhos, estradas...

Que come os grãos que fui deixando cair...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Missing

I miss you..
I miss us.. the common bird,
the common taste of things...

I miss all those winters,
all the holy rain,
lost, so distant, and so broken...

I'm broken... and I miss your touch,
my barriers, my voice...
I miss screaming like before,
crying like before,
because everything was possible,
simple, childish.
It was so good being childish..

I miss being easy,
being always ready,
always partly absent;
I miss feeling the weight of this heart,
this broken heart,
my own tired, bleeding and wounded heart..

I miss being able to say I'm sorry,
I miss my old capacity to forgive...
I miss your hug, you hand, your understanding eyes,
I miss the old days, back when pride was a word I didn't know...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Nuvens

Chove por entre nuvens
gastas e frágeis.
O meu destino é suave
como quem beija pétalas,
estável e errante,
bebendo café como quem não se importa
com a veracidade
da verdade morta.
Meu segredo é conhecido
aquando do café mexido,
remexido e açucarado,
polvilhado de canela.

Os aromas felicitam-me
e fazem qualquer coisa que eu não conheço,
que não desconheço,
de algo de dentro que deixei
para mim, livremente.
Chove por entre nuvens
castas e fracas,
que choram como que de alegria.
Passaste e repiraste
contra o quadro onde te apresentas...
Com eu passo contentas
as flores desatentas,
fracas e pisadas...

Meu futuro é cumprido,
meu prazer prometido,
meu elo às coisas renascido.
Passaste e repiraste o ar colhido
da Primavera dos perfumes...!

A tarde quer cair devagarinho.
Em comformismo,
elucido-me do fogo que larguei,
dos ventos que me têm levado.
Tudo está abandonado,
mas as nuvens, castas e puras,
chovem de alegria.
Passaste e respiraste
o ar do mais perfeito dia...!

Foste sem saber o que seria
seres tu no mundo errante;
foste, sem certeza inconstante,
mais que tu!, um traficante
na rua da paixão fulminante
de seres tu, sem contar a ninguém!

Passaste e repiraste
o medo que respirava
o meu peito ansioso...

sábado, 3 de abril de 2010

Ondas Altas

Tenho saudades do mar,
desse vasto mar que nunca soube...
esse rio imenso que nunca pôde
por sua vontade desaguar.

Tenho faltas do marulho,
do areal, das ondas altas!
É verdade... tenho faltas,
buracos negros de barulho.

Sinto o vazio, a grande brasa
que me queima assim tão só,
boiando, morta, em alto mar...

Nada é tudo e a própria vaza
esqueceu meu ânimo, meu sabor e pó,
e ficou enchendo... até vazar...


domingo, 21 de fevereiro de 2010

Unlock the heart I've built for you...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Vácuo

Avoiding my soul,
my sadness
trying to drift, empty and unconscious...

Shedding all the tears inside,
keeping my eyes blind...

Are you there?

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Tecelagens


Tenho dez fotografias na minha mão.
sem grão, sem desfocagem.
Tenho dez linhas tecendo pão,
mar, frio, paisagem.

Tenho letras soltas, em turbilhão,
sem me exigirem suave leitura.
Tenho da nova areia o grão
da minha noite escura.

Tenho a segura sensação
de um segurança minha,
de ouvir a surda emoção,
cada nota, a mais pequenina...

Tenho na força da tua mão
a certeza de que careci.
Tenho gravado, no meu coração,
o olhar a que cedi.

Porque te preciso, não,
não é por isso, quanto sei.
És o meu futuro coração
que em meu passado chorei.

Porque eu tenho dez linhas
tecendo as aragens mais puras
e porque são de novo minhas
as canções das praias escuras.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Duelo Temporal

Está frio
e sinto as mãos ressequidas
por um passado recente.

Estranho a mão doente,
faço um corte,
gota de sangue que cai escarlate,
pouco de um mim de morte.
Olho minha mão, sina sem sorte,
e corto os dedos, não quero os anéis.
Não quero cordas, grilhões ou pincéis
que pintem a felicidade por cima das minhas mãos.

Ao fundo da rua, que me escuta,
numa esquina qualquer de cidade,
de uma daquelas cidades que nunca vi,
que nunca soube,
que nunca, nunca pude confirmar,
o ponto de fuga, distante,
ri, ri, ri de mim!

Sou impotente. Ele sabe.
Ele sabe...eu não poderei fugir...!
Sinto o calor da minha mãe esquerda,
olho a mão direita,
a mão doente, a faca estreita,
o punhal que matou devagarinho o meu coração.

E o passeio, a esquina amaldiçoada,
gira por tudo e por nada,
entornando-me para uma gravidade
nula e má.
Eu quero cair.
Eu quero cair e sentir dores
e sangue
e fluxos de vida e de morte latejante
que me confirmem forte, constante
e freneticamente que alguma vez eu existi.

Porque eu tenho frio.
Porque, nas mãos que não passaram por mim,
eu sinto o frio...
o frio cruel e ressequido de um passado presente.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010


Um local sem trilhos, sem caminhos,
sem esperanças, sem lembranças,
sem fés, sem porquês,
vendo pela primeira vez
as novas cores da aurora,
o novo ritmo do novo agora,
um novo pranto que chora
e canta a meus pés...

E ser tudo, tudo de novo!
Ser terra e céu e povo
da nova vida que me nasce do mar..!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


Eu caminho em direcção à Lua
porque é ela quem fala comigo.
Da sua imensidão longíqua,
é ela quem sorri quando falo de manhãs,
ela é quem me acorda e vive meus sonhos.
Eu caminho à luz da Lua
porque a Lua é o meu caminho.

Eu socorro meu mísero e mesquinho
destino tão perdido, tão desiquilibrado
na certeza de existir o outro lado,
o místico, irreal desconhecido.
E vou andando no trilho luminoso,
insegura de meu passo perdido.

Contei mil e uma histórias para adormecer,
perdi a conta das vezes que pude fazer
de conta que voava, altiva e só, na noite escura.
Mas eu só sei da Noite Preta, da Noite Pura...

Eu caminho à luz da Lua
porque a Lua é o meu caminho.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Suave Mar Calmo

É um mito
a existência do obstáculo.
Não há obstáculos. Eu não vejo.

É uma mentira,
uma teia bem tecida,
que tudo é da vida o que não queremos,
que tudo em nós é sofrermos,
que tudo são feridas e pesar.

É falso, pelo menos eu não vejo,
que tudo não seja o que desejo,
que os sonhos não sejam a realidade
ilusória que me envolve.

Não queiras saber. Nada está aqui.
Eu não vejo.

eu não sinto ardor antigo das feridas,
esqueci as invenções que cantei como crente,
calei as ansiedades vividas, sempre vividas.

Quis ser eu por entre a estranha gente
que sepultou meu coração batendo.
Lutei, de peito sangrando,
renunciei ao estranho chamamento.

Tudo seria fácil, sabes?
Mas eu não vejo.

Eu não quero ver mais.
eu não preciso de ver mais.
Tudo está aqui
porque tudo está no arvoredo, que sorri,
na água que corre limpa entre nós,
no sol que me devolve
o som da minha voz.

Eu não quero ver, meu mundo é ouvir-te
chamar por mim, de olhos fechados,
lentamente, perfeitamente.

Eu não quero ver, porque o céu está já em mim,
já nada magoa, já nada dói.

Eu não preciso de ver para te sentir, suave mar calmo,
sempre forte, sempre perto,
sempre entregue.
Saber o som do teu sangue
palpitante no teu peito me é bastante
p'ra ver que és feliz.

Não, eu já não preciso de ver.
Tenho tudo já dentro de mim.