sábado, 28 de março de 2015

Ser



As horas apagam
Os dias anoitecem
E tudo é luz incessantemente
Solene

Os teus olhos brilham
Os teus olhos iluminam

O sentimento imenso.
Choro.

Por seres.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Transitoriedade

Nos momentos inquietos
de uma transitoriedade mórbida
há as pequenas certezas
os pequenos segredos
que confirmam a ilusão
de porto seguro.

Pequeno anseio de episódios
breves e suspensos
inteiros e meus.

Pequeno suspiro
nessa suspensão
que é saber-te tão perto
e inacessível.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Ânsias

Deixaste-te partir
Não voaste
E, mesmo longe, não chegaste 
A contemplar ou sentir;

Decidiste fugir… 
Escondes-me vésperas de notícias;
finges e mentes; propicias
as minhas desesperanças no porvir.

O que encontras…procuras? 
serão designações futuras,
resultados de intempéries, de circunstância,

As infelizes coincidências desta sorte,
cativa e já não a antiga e forte
estrutura sempre imune, nunca mudança?

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Improviso

Experimenta-me a toques poucos,
a toques leves;
Experimenta-me compartilhada,
desespartilhada,
com meias por ligar;

Desentrelaça-me cabelos
apenas para os cortar
no minuto seguinte e de vez.
Desentrelaça-me amanhã outra vez.

Aprende-me poros, tons e veias!

Ousa as tentativas,
pouco comuns, pouco infinitas
de não penteares uma mulher,
de não espartilhares uma mulher.

Canta as doces canções que não ouviste
e repete os contos que não soubeste
para que eu faça, no fim de contas,
o meu próprio colar
de cerejas e marfim e pétalas!

O mundo é pequeno. É mudo.
É mundo.
Não chega.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Asas

Beijei as asas e voaste,
livre, no céu aberto.
Beijei as asas e vi-te seres tu,
livre e solta,
livre e repleta
de todos os desejos que foste!

Beijei o chão, em tom de graça,
abençoei o teu regresso ao chão
que sempre me falhou.
Abençoei o chão que me renegou
e me desfez por dentro.
Mas abençoei o teu regresso
e o chão resignou.

Estranhezas brandas fazem de mim
um choro só
e uma angústia desmesurada,
um sentimento de falha,
de mistério ou de ternura
que agora se vai, longe,
voando.

Sonos trémulos
me mentem e me descansam provisoriamente.
Sinto cada vez mais.
Sofro cada vez mais.
Cada vez mais te não sinto.
Medo constante. Onde estás?

Algures eu sei que estive
perto do que julguei ser.
Algures eu sei que tentei
ver-me com outros olhos,
uns olhos públicos e simples,
olhos que olham simplesmente.
Constatação prudente de que não sei ver
nem ser publicamente, geralmente.

Quem fomos nós, saberão os outros
algum dia?
Saberá alguém, nalgum dia, em algum lugar
que, quando beijei as asas,
eu me julguei voar?
Saberá alguém, longinquamente,
que, intensivamente, eu tentei
ser simples?

Quererá saber alguém, nalgum plano posterior qualquer,
que tentámos ser?

Sentimentos de falha, de revolta.

 Lágrima que te traz, voando, à memória,
leve.

Beijo-te para que sejas livre. 

Nome

Queres-me? Testa-me.
Sussura-me suave, espera que te ouça.
Voltarei as costas. Não te quererei ver.

Vês-me? Pensa.
Quererás ver pós, chamas,
chuvas, lama?
Não te quererei. Não me verás.

Repetes? Queres-me? Loucura!
Teimosia! Vaidade
de  mostrar, de rotular.
Oportunidade pública de querer.
Renuncio.
Não me sabes.

Queres-me? Trata-me pelo Nome.

Qual?

Vês? Renuncio.

Infinitas lágrimas de pó

Infinitas lágrimas de pó
que se desvanecem pelos ventos;
Infinitas águas que digo e que minto reconhecer;
Vagas incessantes, paisagens surreais;
credos, fugas, desmaios torrenciais;
benévolo sufoco que me faz descansar.

Grandiosidades observadas,
reconhecidas,
suavemente expostas a outros,
a outros que arrogantemente,
se despedem de nós.
Outros que, arrojadamente,
se esquecem de nós.
Os outros que nos matam.
Os outros que não recordam.

Grande dificuldade em assumir grandeza.
A superioridade de mostrar os pedestais,
de subir as escadas, de olhar para trás,
de olhar para baixo,
e dizer: "Eu subi. Tu não."
Dizer, ao fim,
que houve em mim
a coragem de querer subir,
os desejos de inventar asas
se não para voar, para tentar.
Eu quis voar. Tu não.
Dizer claramente, reclamar
autoridades, magnitudes, poder!

Porque, de tudo o que está feito,
de tudo o que houve para ser,
sou um de Nós, um Eleito!
E há superioridade nisso
e há valor nisso
e há horizontes longínquos, maravilhosos e reservados
que eu vejo! Tu não.
Há universos que me são mostrados,
há futuros e há passados
que passeiam de mãos dadas comigo,
que me sabem, me conhecem e me tratam por "amigo",
nestes mundos que vão passando e que nada ficam.

Há diferenças nas coisas porque as coisas são diferentes,
porque há diferentes cores, diferentes sortes,
diferentes rumos, diferentes tons.

E há a honestidade de eu ser diferente.
E há o orgulho.
Eu sou diferente. E tu não.