terça-feira, 7 de maio de 2013

Asas

Beijei as asas e voaste,
livre, no céu aberto.
Beijei as asas e vi-te seres tu,
livre e solta,
livre e repleta
de todos os desejos que foste!

Beijei o chão, em tom de graça,
abençoei o teu regresso ao chão
que sempre me falhou.
Abençoei o chão que me renegou
e me desfez por dentro.
Mas abençoei o teu regresso
e o chão resignou.

Estranhezas brandas fazem de mim
um choro só
e uma angústia desmesurada,
um sentimento de falha,
de mistério ou de ternura
que agora se vai, longe,
voando.

Sonos trémulos
me mentem e me descansam provisoriamente.
Sinto cada vez mais.
Sofro cada vez mais.
Cada vez mais te não sinto.
Medo constante. Onde estás?

Algures eu sei que estive
perto do que julguei ser.
Algures eu sei que tentei
ver-me com outros olhos,
uns olhos públicos e simples,
olhos que olham simplesmente.
Constatação prudente de que não sei ver
nem ser publicamente, geralmente.

Quem fomos nós, saberão os outros
algum dia?
Saberá alguém, nalgum dia, em algum lugar
que, quando beijei as asas,
eu me julguei voar?
Saberá alguém, longinquamente,
que, intensivamente, eu tentei
ser simples?

Quererá saber alguém, nalgum plano posterior qualquer,
que tentámos ser?

Sentimentos de falha, de revolta.

 Lágrima que te traz, voando, à memória,
leve.

Beijo-te para que sejas livre. 

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