segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Fábulas

No final do novo Outubro
talvez eu veja sol.
Agora não.
Agora os olhos fecharam-se,
tal qual os teus,
por pura teimosia,
num novo tipo de renúncia
e não de coragem... como tu.
Agora, nada verei raiando
sobre a areia imensa,
pois, para mim, és cada grão da vasta praia,
que vou contando insistentemente
enquanto ouço horas, sempre horas, gritadas p'lo mesmo relógio.
Tua lembrança sufoca mais alto,
meus olhos cegos de pensamento mudo...

No final do novo Outubro
talvez eu veja sol
e as flores que colhias alegremente,
saltando com a saia presa nas amoreiras,
gargalhando contra a paisagem campestre,
inferior e estupefacta,
maculada perante ti.
Mas, agora, és cada grão do areal,
que não repousa nunca no relógio sádico.

E és toda pó,
jacente no novo leito adormecido,
ladeada de tábua, céu e desconhecido.

Por enquanto, sou os teus lábios frios,
que me foram Verão constante,
e teu perfume que me beija
é apenas réstia de teu novo estado.

És toda pó... meu anjo...
rodo com os ponteiros, esbanjo
tempo... tempo que não existe,
esse tempo-nada onde caíste sem eco,
esse que me prolonga numa sobrevivência insípida
que nada tem de nós.

Sininho, és toda pó...
e eu não consigo isolar da minha mente
que te foste, que te roubaram
do meu ser egoísta e vazio...

E levaste contigo as cores...
deixaste comigo meus olhos cegos
de só te ver a ti.

Só vejo o teu corpo.
O teu corpo abandonado em teu novo leito sombrio.

Podes, Sininho desaparecida, pedir-me tudo.

Nada me fará o que me faz
chorar o sol frio de Outubro
e minh'alma pela tua, que jaz...!

1 comentário:

  1. ....!!!!! One of your best!! Love it...!

    Em qualquer altura do ano, até no mais cerrado dos invernos, vejo sempre o sol contigo ao meu lado...

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