terça-feira, 7 de maio de 2013

Nome

Queres-me? Testa-me.
Sussura-me suave, espera que te ouça.
Voltarei as costas. Não te quererei ver.

Vês-me? Pensa.
Quererás ver pós, chamas,
chuvas, lama?
Não te quererei. Não me verás.

Repetes? Queres-me? Loucura!
Teimosia! Vaidade
de  mostrar, de rotular.
Oportunidade pública de querer.
Renuncio.
Não me sabes.

Queres-me? Trata-me pelo Nome.

Qual?

Vês? Renuncio.

Infinitas lágrimas de pó

Infinitas lágrimas de pó
que se desvanecem pelos ventos;
Infinitas águas que digo e que minto reconhecer;
Vagas incessantes, paisagens surreais;
credos, fugas, desmaios torrenciais;
benévolo sufoco que me faz descansar.

Grandiosidades observadas,
reconhecidas,
suavemente expostas a outros,
a outros que arrogantemente,
se despedem de nós.
Outros que, arrojadamente,
se esquecem de nós.
Os outros que nos matam.
Os outros que não recordam.

Grande dificuldade em assumir grandeza.
A superioridade de mostrar os pedestais,
de subir as escadas, de olhar para trás,
de olhar para baixo,
e dizer: "Eu subi. Tu não."
Dizer, ao fim,
que houve em mim
a coragem de querer subir,
os desejos de inventar asas
se não para voar, para tentar.
Eu quis voar. Tu não.
Dizer claramente, reclamar
autoridades, magnitudes, poder!

Porque, de tudo o que está feito,
de tudo o que houve para ser,
sou um de Nós, um Eleito!
E há superioridade nisso
e há valor nisso
e há horizontes longínquos, maravilhosos e reservados
que eu vejo! Tu não.
Há universos que me são mostrados,
há futuros e há passados
que passeiam de mãos dadas comigo,
que me sabem, me conhecem e me tratam por "amigo",
nestes mundos que vão passando e que nada ficam.

Há diferenças nas coisas porque as coisas são diferentes,
porque há diferentes cores, diferentes sortes,
diferentes rumos, diferentes tons.

E há a honestidade de eu ser diferente.
E há o orgulho.
Eu sou diferente. E tu não.

terça-feira, 12 de março de 2013

Isto já não é ser.
Isto é um surpreender quotidiano,
é um não saber quando,
onde e como
eu como todos os dias.

Tudo isto já é mais que regular.
Tudo isto já são náuseas,
tonturas, asfixiar.

Que raio é isto
que insiste em me perseguir?!
Que raio?
Deixem-me! 
De todos os momentos para me deixarem,
este é o melhor!

Deixem-me!

Deixem-me! Cansei-me!

Merda!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Medo

Os meus medos são poucos. Não há que temer.
Há apenas que ter bom senso, calma e, principalmente, perspicácia.
Olho aberto, em linguagem corrente. 

Eu tenho medo. Dói-me a alma de pensar que posso um dia enfrentar o medo.
Ou os medos. Já que tantos são. E são tantos.

O meu maior medo é aquele que não vejo, que sinto e me apavora por dentro. Que decora os meus passos para me poder perseguir. O que não me deixa dormir ou fechar os olhos nem por um instante. O que me mente dizendo-se distante. Que se apodera da minha mente e me grita mudo constantemente. Me sufoca o corpo, me tira o ar, e aperta a garganta sem que possa respirar. o fantasma que me segue e me assombra, que se cola a mim e me toma a sombra. Meu medo é o medo que segreda ao meu ouvido, que me ameaça em tom de voz sumido. Que me sente quente e me esfria. Que me encarna a alma e deixa totalmente vazia.

terça-feira, 27 de março de 2012

Breve Passagem

A vida é uma sucessão de boas passagens: seria tão bom poder encará-la como uma outra viagem qualquer em que preparamos a bagagem (ou não) e se parte. Seria realmente bom ter memória saudavelmente, sem mágoas nem rancores, e atribuir importância apenas ao que nos deu, de uma forma ou de outra, um momento de felicidade.

Há pessoas que me recordam que a minha vida é uma passagem. Há pessoas especiais. Na minha passagem. E como lhes agradeço sem que saibam o seu tão grande contributo para a minha memória saudável, porque ver as pessoas especiais me faz consciencializar do meu tamanho e ver-me, na minha verdadeira medida, acalma-me. As pessoas especiais tiram-me o medo. O medo que, há demasiado tempo, tem habitado em mim.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ao meu amigo

Escrevo notas,
digo adeus: vou fugir.
Preciso fugir para os sítios brancos,
para as áreas puras
do frio purificador.
Urgentemente desejo
a saída,
num acto cobarde
e catártico
que me devolva o que tinha dentro.
Vou correr para fora de mim
encontrar no meu reflexo
unidades emocionais perdidas
e desfazer abraços que me estrangulam
e sorrisos que me cortam
e ser inteira e só,
unicamente, simplesmente,
finalmente.

Quando me encontrar, digo-te.
Escrevo-te uma carta. Ou um bilhete, talvez.
Mas vou precisar que saibas tudo:
que me encontrei, que quero que o saibas,
por seres a consciência que não fala,
mas que ouve,
a que não concorda, me insulta
e me acarinha quando tudo cai.

Quando todo este tempo-tornado terminar,
eu falo-te;
quando terminar
e eu cessar de ser eu,
agradeço-te.

Quando tudo isto chegar ao fim,
dar-te-ei a saber que te amo.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Intervalo

Olho o sol e atento os intervalos
de luz.
Noção vaga e curta do que é "quase-ser",
de não ficar para trás, mas de lado.
Que doença grande
esta deste não contentamento,
deste desalento. Deste sofrimento, talvez.

Porque dói entender que não se fez tudo?
O que dói, no fundo?
A sensação na cabeça... o pensamento que me mói
e me engana, provavelmente.
Que foi que fiz? Que provas julguei ter ultrapassado,
quantas missões julgarei ter completado?
Que foi que fiz?

Quanta vontade de dormir e ninguém me deixa.
Cerro os olhos e há alarmes
e eu acordo sempre por entre as minhas lágrimas,
julgando-me já purificada.
Mas sinto o peito magoado
e sinto a vida em mim dormente.
Num puro momento anestésico, firo-me,
que, sentir por não sentir, que haja rastos
daquilo que me feriu e não senti.

Vejo as mãos ressequidas
por um passado presente.
Cada vez mais gélida, ninguém me sofre.
Cada vez mais rouca e só.