Está frio
e sinto as mãos ressequidas
por um passado recente.
Estranho a mão doente,
faço um corte,
gota de sangue que cai escarlate,
pouco de um mim de morte.
Olho minha mão, sina sem sorte,
e corto os dedos, não quero os anéis.
Não quero cordas, grilhões ou pincéis
que pintem a felicidade por cima das minhas mãos.
Ao fundo da rua, que me escuta,
numa esquina qualquer de cidade,
de uma daquelas cidades que nunca vi,
que nunca soube,
que nunca, nunca pude confirmar,
o ponto de fuga, distante,
ri, ri, ri de mim!
Sou impotente. Ele sabe.
Ele sabe...eu não poderei fugir...!
Sinto o calor da minha mãe esquerda,
olho a mão direita,
a mão doente, a faca estreita,
o punhal que matou devagarinho o meu coração.
E o passeio, a esquina amaldiçoada,
gira por tudo e por nada,
entornando-me para uma gravidade
nula e má.
Eu quero cair.
Eu quero cair e sentir dores
e sangue
e fluxos de vida e de morte latejante
que me confirmem forte, constante
e freneticamente que alguma vez eu existi.
Porque eu tenho frio.
Porque, nas mãos que não passaram por mim,
eu sinto o frio...
o frio cruel e ressequido de um passado presente.
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