Procurando as pedras da calçada,
conseguirei alguma vez ver os passos novos? há passos novos? viste-os?
Sento-me no chão da rua suja,
coberta da lama das castanhas, das folhas fora de moda.
O tempo está fora de moda, já não é o momento.
Se é... bom, não me lembro.
Deve ser Novembro p'ra chover tão intensamente...
sabes da outra gente?
Chegaram a telefonar?
Não chegaram a importar-se connosco.
Que novidade é essa?
Lavei ontem as coisas que me tinhas pedido,
guardei-as na mala , debaixo da mesa,
deitei-me inquieta,
e rezei p'ra que tivesse feito tudo bem.
Não dormi.
Mexi-me, remexi-me, virei as costas
a todos o sonhos,
gritei e expulsei infinitamente
os fantastmas que não deixaram a minha cabeceira.
Sabem tantas canções de cor... !
Guardei tudo, levantei-me e verifiquei a segurança
do escondido.
Estava escondido. Estava seguro.
Deitei-me.
Deitei-me e os gritos despertaram-me. Vi-me,
deitada na cama, como tinha acabado de fazer, dormindo quieta.
Porém, tudo na minha cabeça eram os gritos,
gritos, gritos!
Abri os olhos e, no espelho onde inconscientemente me revia,
a minha boca gritava a mesma loucura dos outros,
de todos os outros à minha volta,
todos surdos, desalmados,
mudos.
Acho que é Novembro. Deve ser.
Ainda não parou de chover.
É verdade: os outros...
chegaram a telefonar-te?
Sem comentários:
Enviar um comentário