são o sítio mais harmonioso e são que já vi.
Brancas, pálidas,
impregnadas de saúde,
cheias de sorrisos de "boa sorte" ou "as suas melhoras",
sorriso amarelos, dentes com cárie.
Tudo devia ter uma sala de espera
para que pudéssemos esperar em tudo,
para que tivéssemos esse tempinho extra,
tempo para nada, apenas para esperar
que alguém, num acto de extrema amabilidade,
chame o nosso nome.
Todas as salas de espera deviam ser
brancas, pálidas,
neutras para que não se pudesse imaginar
nem recriar as formas dos bonecos nas paredes
nem memorizar a música de fundo
que se faz ouvir ainda mais baixa que o pensamento.
Uma sala de espera não pode ser bonita,
não pode distrair-nos do único propósito
que lá temos: esperar.
Esperar, gritar bem alto dentro de nós
que estamos fartos de esperar e sorrir quando, finalmente,
depois de termos perdido, ou antes, dispensado
tanto, tanto tempo esperado,
ouvimos o nosso nome,
por entre ruídos de um microfone
muito português e avariado,
mais velho que a própria criação do microfone.
E é isto: após dias gastos esperando,
dez minutos depois mandam-nos embora,
quase furiosamente,
porque os fizemos perder dez minutos connosco.
Tudo tem uma sala de espera,
uma das grandes, frias e vazias,
com microfones avariados e sistemas lentos:
consultas, escolas, trânsito,
empregos, crenças.
Todas as salas de espera,
onde esperamos que alguém
desesperadamente também necessite de nós,
têm janelas
por onde nada vemos
a não ser o rosto angustiado de cada um
reflectido nos vidros.
"Chamem-me, p'lo amor de Deus..."
E Deus, de ocupado ou de ocioso,
vai esperando que esperemos,
vai lembrando que, sim, rezamos,
e acreditando que ainda acreditamos na esperança.
Mas o Homem é curioso...
Deus, esse que vive na maior das salas de espera,
acabou por ser utente sem número.
Como eu espero que não adoeças!
Se sim, nunca esperes que chamem o Teu nome.
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