quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Abismo

Na hipótese de abismo
atiro-me sem pensar,
porque tenho, no fundo,
a coragem p'ra me atirar.
Na primeira hipótese de abismo,
atiro-me.
Saudades de sentir um vento frio,
um sussurro gélido,
um impulso qualquer que me devolva
a identidade;
sabes? Saudade de mim.
Passa tanto tempo para o tempo se mover...
É bom saber que os vácuos persistem,
que ainda há fantasmas e bruxas que assistem
a todos os meus espasmos.
Alguém ainda me vê as convulsões.

As novas coisas, sensações
febris,
anemias de carências, fiz
do medo um novo lugar.
No próximo abismo, vou saltar.
Porque não?
há teias para me parar, há as redes das razões,
há os princípios, as convenções,
há de tudo um pouco para me envenenar
contra as minhas próprias invenções!...
Mas a minha cabeça arde...
nas vertigens e nos turbilhões
há o grito que me rasga
e me fere em perturbações...

Eu quero saltar porque não tenho asas nos pés.
A gravidade do mundo e das coisas sérias...
E os desejos? As estrelas?
Onde voltar a vê-las neste poço que findou de vez?

Não me importa que não queiram que salte.
No próximo abismo, salto com coragem
e faço-me engolida na voragem
do que fui...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O mundo muda mudo.
O mundo se transfigura
e eu, sugada por tudo.

porque as cores são fusões
de estados em várias fases;
as cores são trovões;

os olhos não sabem conhecer
a velocidade das alterações...
dói (re)aprender.

Tocam-me. É sem cura
que todas as metades
sejam o todo que transfigura.

Tudo é a dor que me perfura.
Essa dor, essa, que perdura.

Essa, que me estilhaça a sanidade.